Entrevista – Vinil

Entrevista – Vinil

Perguntas e Respostas sobre o Vinil

A TROCA DO VINIL PELO CD NOS ANOS 90

Com a chegada do Compact Disc ao Brasil, nos anos 1980, o vinil foi perdendo espaço até desaparecer completamente, na primeira metade da década de 1990. A que se atribui o sumiço do vinil no Brasil?

O CD vingou porque, do ponto de vista do consumidor, ele proporcionava vantagens nítidas em relação ao vinil, como a portabilidade, o menor espaço que ocupava nas prateleiras, a capacidade para muito mais tempo e, consequentemente, mais músicas e a facilidade para se ouvir a faixa que se queria num simples toque de tecla. Ou seja, tudo o que o vinil não permitia. O CD teve enorme importância cultural e fez a indústria fonográfica dar um salto enorme em números de vendas e faturamento. Mas a volta do vinil não tem a ver com saudosismo ou militância apenas.

Por que os dois formatos não coexistiram?

Por todas as suas características, o CD era um produto perfeito para o mundo moderno que se desenhava a partir daqueles anos 1990. Houve até quem reclamasse do processo que levou à total extinção do vinil, mas só muito tempo depois a grande maioria das pessoas se deu conta de que havia perdido muito com o desaparecimento do vinil.

A VOLTA DO VINIL

O que há de tão interessante no vinil que faz, até hoje, tantas pessoas ainda gostarem ou colecionarem?

O vinil é fundamentalmente uma experiência tátil, visual e auditiva. Manusear as quase 200 gramas do disco nas mãos, colocá-lo no toca discos, observar magníficas artes estampadas em 31x31cm (contra os 12cm do CD), ler o encarte e a contracapa, trocar de lado e ainda ouvir um som que tem vantagens cientificamente comprovadas sobre qualquer som digital, tudo isso faz com que o vinil seja encarado como um fetiche, um objeto de desejo. Rola uma mística ao se colocar um LP para tocar. E os projetos gráficos ficam muito mais bonitos e elegantes. Enfim, não é apenas um sentimento que une todas as pessoas que gostam de vinil. Arriscamos dizer que a qualidade do som, a beleza da capa e a deliciosa experiência de se colocar um disco no prato e a agulha para tocar é que fazem a diferença.

Por que acha que os artistas aderem a essa tendência, já que o custo de produção é considerado alto?

Porque mesmo com o custo de produção sendo mais alto, a música deles ganha níveis tão mais elevados quando reproduzida em vinil que até um gasto a mais passa a valer a pena.

MERCADO

O vinil tem espaço no mercado de hoje, tomado pela tecnologia digital? Por quê?

Partindo da teoria de contrastes, ele tem espaço justamente porque o mundo que está no outro extremo é muito cibernético. Um pouco de romance, tradição, saudosismo, sempre faz bem. O vinil não voltou para substituir nada, mas sim para se converter em mais uma opção de se reproduzir música.

O mercado de LPs tem força para continuar crescendo nos próximos anos?

Havendo oferta de discos e também dos toca discos, isso é inevitável. Há uma demanda comprovada, a todo momento aparece alguém querendo comprar ou produzir vinil. Muitos artistas e gravadoras, não só do Brasil, mas de Argentina, Chile, Colômbia, Uruguai, países onde o vinil é idolatrado, querem lançar seus trabalhos no formato. A reativação da Polysom foi uma contribuição para que a cultura do vinil não esmorecesse por falta de oferta.

Sabe-se do aumento consistente de vendas do formato em vários países, mas no Brasil parece não haver nenhum levantamento. Qual é a expectativa em relação à continuidade do negócio?

No Brasil, quem queria ter LPs após o fechamento da Polysom, tinha que comprar importados. Fazia falta uma fábrica que possibilitasse o escoamento da imensa produção musical que temos aqui. Lá fora, há fábricas em pleno funcionamento e todas falam em aumento na demanda, algumas até já operando em seu limite máximo. E é inexorável que o Brasil acompanhe a tendência mundial.

O relançamento do vinil foi uma estratégia para colocar no mercado um produto segmentado, que preenchesse uma demanda específica dentro da indústria fonográfica?

A única estratégia por trás da volta do vinil foi a possibilidade de se oferecer a quem quisesse mais uma mídia condutora de música. Música é o verdadeiro negócio. Sempre se achou que reativar a fábrica representaria dar um passo para trás para depois dar dois à frente. Hoje a Polysom é uma fábrica com qualidade comparável a qualquer uma de países como Estados Unidos, Alemanha, França e Holanda, onde estão as melhores. É uma fábrica 100% comprometida com a proteção ambiental, a qualidade, a luta contra a pirataria e a segurança do trabalho. São as quatro bandeiras.

O CONSUMIDOR

Há um público consistente que consome música via discos de vinil?

Certamente. há três tipos de público: o que chamamos de público ativo, um contingente que fala e briga pelo vinil com muita garra; um público que não se manifesta por falta de oferta; e um público que está conhecendo ou vai conhecer o formato e se apaixonar.

Há algum estudo sobre esse público-alvo? É de se imaginar que sejam pessoas mais velhas, que experimentaram o vinil durante o auge, ou vocês incluem também jovens, curiosos com essa mídia?

Sempre surpreende o interesse de pessoas de quem não se esperava a menor atenção. Engana-se quem pensa que são apenas velhos saudosistas. Há um grupo enorme querendo saber, comprar, ouvir. Não se trata apenas de curiosidade. Quando as pessoas entram em contato com o som caloroso do vinil, imediatamente sentem o quanto a música digital roubou deles em qualidade.

SOM

Como comparar a qualidade de som do vinil com a de formatos digitais?

Muitos profissionais têm longos anos dedicados às gravações. Isso proporciona discernimento na hora de julgar sons fazendo comparações. Um LP que teve o acetato bem cortado, as partes metálicas bem produzidas e a prensagem feita dentro dos padrões básicos, tem o som infinitamente melhor do que qualquer MP3 ou coisa que o valha, porque não há compressão do som por processos digitais binários. O vinil conserva uma profundidade do som que se perde claramente nos formatos digitais.

O vinil tem comprovadamente melhor qualidade de som do que o CD?

A qualidade do som do CD é definitivamente diferente da qualidade do vinil, mas não necessariamente melhor ou pior. Na verdade, os CDs são capazes de reproduzir extremas altas frequências que não podem ser reproduzidas facilmente pelo vinil. Por outro lado, o vinil pode reproduzir baixas frequências que CDs não conseguem. O vinil proporciona um som único que dá uma sensação espacial que o CD não atinge.

MEIO AMBIENTE

Por que a defesa do Meio Ambiente é uma bandeira tão importante para a Polysom?

Com a consciência de que a produção de vinil tem que cumprir seu papel na luta contra a poluição, a Polysom decidiu ser um exemplo de respeito e defesa do meio ambiente. Para isso, não faltaram investimentos – ser ecologicamente correto custa muito caro – para que fossem cumpridas todas as normas que regulamentam o assunto. Como resultado, atingiu-se um tal grau de excelência, que foi obtida com méritos a Licença Operacional do Instituto Estadual do Ambiente.

O que vem a ser o Black2Green?

Isso surgiu de uma brincadeira ao se referir ao “black” do vinil passando ao “green”, do verde ecológico. Retrata o crescimento com responsabilidade ambiental a que a Polysom se obrigou ao presenciar inúmeras ações “green” no exterior. Essa marca está no site e conta todas as iniciativas da Polysom na defesa do meio ambiente.

QUALIDADE

Os discos têm qualidade comparável com outras fábricas do exterior?

Sim, comprovadamente.

Que providências foram tomadas para isso?

Primeiramente, foram seguidos os padrões mundiais para cada pequena coisa, os padrões que sempre deram certo. Não há improviso. A pressão da caldeira, o calor emanado, o resfriamento, a niquelagem, o corte do acetato, as dimensões dos discos e rótulos, tudo isso tem que seguir à risca uma cartilha. Vinil tem características muito próprias para ser produzido, desde a masterização, que já é diferente, até os processos por que passa: corte do acetato, galvanoplastia, prensagem, etc. A Polysom cuida para que cada uma dessas etapas seja muito bem executada.

PROPRIEDADE INTELECTUAL

Como a Polysom atua para que nenhum dos produtos fabricados tenha conteúdos inapropriados ou de propriedade duvidosa?

A Polysom criou meticulosos mecanismos e documentação apropriada para que se evite qualquer deslize nessa área.

PREÇOS E IMPOSTOS

O preço não é caro?

A fabricação envolve várias etapas, que começam no corte de acetato, que, apesar de técnico, tem um forte aspecto artístico, e termina com a prensagem propriamente dita. No caminho entre um e outro, existem a galvanoplastia (que transforma o acetato em matrizes niqueladas e precisa fazer como o melhor cozinheiro faz e usar apenas produtos de alta qualidade), a caldeira, os compressores, tudo operado com custos altíssimos. Desse ponto de vista, definitivamente não é caro. Mas a Polysom continua trabalhando para baixar o custo de fabricação e assim criar uma corrente de preços mais em conta.

QUANTIDADE MÍNIMA

Por que a Polysom estabeleceu a quantidade mínima de fabricação em 300 unidades?

Porque esse é o mínimo que justifica a elaboração de todo o set up necessário para colocar toda a engrenagem em funcionamento. O preço unitário começa mesmo a ficar mais palatável para o cliente a partir das 500 cópias de um título.

PRODUÇÃO

Qual a capacidade de produção da Polysom?

A capacidade inicial instalada é de 28 mil LPs e 12 mil compactos por mês, podendo ampliar para o triplo desse número sem perder qualidade. A Polysom foi reativada em condições ideais de ampliação.

Inicialmente, a Polysom seria apenas fábrica, não faria produtos acabados (com capa, adesivos, plásticos de embalagem, etc) nem distribuiria diretamente às lojas. O que fez a Polysom mudar essa decisão?

O foco inicial da Polysom era produzir o vinil, o que vai dentro da embalagem que as gravadoras e os artistas – e todos os clientes – sabem genialmente criar e produzir. A ideia era manter a Polysom em seu foco de imprimir qualidade nos discos, o que já seria difícil e exigente. Entretanto, depois de várias decidiu-se ampliar essa prestação de serviços e oferecer o acabamento completo dos LPs e Compactos. Embora os discos de vinil sejam um formato antigo que está sendo trazido de volta, muitas coisas têm sido adaptadas aos novos tempos, desde as próprias instalações da fábrica até a forma de fazer esses discos chegarem ao público.

CLÁSSICOS EM VINIL

Quais títulos a Polysom ainda planeja lançar?

Grande parte deles já está sendo reeditada, graças às parcerias com gravadoras como Warner, Universal, Som Livre e Sony Music, que licenciam grandes títulos para a série Clássicos em Vinil. São discos de Ultraje a Rigor, Titãs, Jorge Ben, Tom Zé, Secos & Molhados, Rita Lee, Chico Science, Tom Jobim, Novos Baianos, Milton Nascimento, Raul Seixas, Mutantes, Tim Maia e Nação Zumbi, entre outros.

O que caracteriza a série Clássicos em Vinil?

Todos os discos da série têm 180 gramas e são produzidos a partir dos tapes originais e com a preservação das artes originais. A repercussão tem sido tão grande que as gravadoras parceiras estão cada vez mais abertas a licenciar seus títulos maravilhosos. E note que estamos falando de um catálogo infindável de discos inesquecíveis.

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